Hoje é dia de falar de coisas muito estranhas, de tal forma que resolvi escrever sobre um filme de David Lynch que, para quem não sabe, é aquele tipo que realiza filmes que ninguém percebe nada, logo só podem ser bons. Isto porque, quando não entendemos certos filmes que vemos, das duas uma, ou não prestámos a devida atenção, ou são bem feitos demais para a nossa compreensão. No final de dois mil e um dp, estreou no cinema Mulholland Drive, que desde logo se tornou um filme de culto, não só por ser de David Lynch, mas acima de tudo por, mais uma vez, ninguém ter entendido patavina do filme. No entanto, ninguém foi capaz de dizer se gostou ou não, remetendo as suas dúvidas para a possível hipótese de não ter compreendido o enredo. Todavia, aquilo era muito simples, senão vejamos, a Rita sofre um acidente em Mulholland Drive, perto de Hollywood, e perde a memória. Depois é ajudada por Betty, uma jovem aspirante a actriz que acabou de chegar a Los Angeles. Entretanto, do outro lado da cidade, um realizador de cinema chamado Adam quer evitar que a Máfia interfira no seu último filme. Há ainda um cowboy, que por esta altura ainda eram vistos como homens viris, uma vidente tipo a saudosa Alcina Lameiras, um anão que aparece sentado numa poltrona tipo alucinação colectiva e mais uma ou outra personagem que aparecem assim do nada. Em determinada altura do filme, todas estas personagens se cruzam, deixando o coitado do espectador à nora e sem saber quem é o culpado, onde está o inocente ou porque raio está tudo metido ao barulho. De realçar a presença neste filme de duas actrizes de cortar a respiração, as boas actrizes Naomi Watts e Laura Helena Harring, que nos proporcionam umas das cenas mais sensuais de amor leviano e lésbico que o cinema alguma vez nos mostrou. Se houver algum bom motivo para gostar deste filme, está precisamente confinado naqueles dez minutos em que não conseguimos desviar os olhos do ecran e todo o nosso corpo se contorce perante a esfrega e refrega destas duas actrizes. Enfim, há mais conteúdo neste filme, mas será que alguém se lembra depois daquilo? Duvido, mas na verdade o filme é muito bem realizado, de tal forma que David Lynch ganhou o prémio de melhor realizador em Cannes e foi também nomeado para um Óscar nesta mesma categoria, embora tenha perdido, assim como as suas actrizes nas respectivas categorias. Mas percebe-se bem porquê, pois afinal não há categoria exclusiva para melhor representação lésbica. É uma pena, lá isso é! Para quem gosta do cinema extravagante e insólito de David Lynch, fica bem servido com mais esta sua obra-prima que nos dá que pensar mesmo não entendendo o fio da meada a partir de determinada altura do argumento. Essencial: Mulholland Drive de David Lynch. Obrigado.
http://www.mulhollanddrive.com/